12 de outubro – Crianças com deficiência estão incluídas nas brincadeiras? Leia a entrevista com especialista em “brincar”
Publicado em: 11/10/2024
Veja no final da matéria a lista de parques e atividades acessíveis para passar o dia das crianças, porém apenas 13 dos 92 parquinhos municipais de São Paulo são inclusivos e, mesmo entre estes, alguns não possuem rampas de acesso, piso tátil, mapas e comunicação em braile.
Por Sergio Gomes, para o site da Câmara Paulista de Inclusão
No Brasil, o dia 12 de outubro é, além de um feriado religioso, um dia para comemorarmos a vida das crianças e a forma como iluminam e alegram o mundo. E quando falamos em brincar temos que nos lembrar de todas as crianças e por isso é importante também nos lembrarmos do brincar e ele deve ser um direito garantido às crianças com deficiência também.
Esthér Asevedo
Por que brincar é importante para o desenvolvimento de todas as crianças?
O brincar é inerente ao ser humano e ele funciona como um dos eixos de aprendizagem da criança, seja ela com ou sem deficiência. As crianças acessam o mundo através das brincadeiras e assim vão aprendendo e hoje sabe-se que o brincar estimula o desenvolvimento cognitivo e a criatividade das crianças. “Então, o brincar é o eixo norteador de toda aprendizagem da criança. Quando a gente pensa em criança, criança brinca e a criança aprende enquanto brinca, então, falando de educação infantil que é com o que eu trabalho, os pequenininhos o brincar é nosso eixo norteador e isso aparece nos documentos oficiais BNCC (Base Nacional Comum Curricular do Ministério da Educação).
O brincar é a forma como a criança compreende o mundo e a forma como a criança aprender sobre o mundo. Então, brincar é essencial na vida de qualquer criança e essencial na vida das crianças com deficiência também, porque para além da sua deficiência elas continuam sendo crianças e elas vão acessar o mundo através da brincadeira, como qualquer criança que não tem deficiência faz. Brincar é essencial para o ser humano e aí na sua condição de criança na sua fase de desenvolvimento enquanto criança e ai com ou sem deficiência, a brincadeira, o brincar é primordial”, explica Esther Asevedo, formadora de professores e coordenadora pedagógica na União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS).
As crianças também desenvolvem a coordenação motora a saúde física, o autocontrole e o equilíbrio emocional durante as brincadeiras. Há muitos benefícios trazidos pelo brincar e os brinquedos têm papel fundamental nessas atividades. O mercado oferece uma variedade de brinquedos educativos, incluindo opções para crianças com e sem deficiência. Blocos texturizados e brinquedos luminosos são exemplos que estimulam o desenvolvimento de crianças com deficiência visual e auditiva, respectivamente. Uma busca online revela um universo de brinquedos projetados para auxiliar no aprendizado infantil em diversas áreas.
Parques públicos precisam oferecer acessibilidade universal
Os pequeninos também começam a desenvolver muito cedo suas habilidades sociais através das brincadeiras com outras crianças, mas aí podemos encontrar os primeiros obstáculos quando se trata de crianças com deficiência, pois os parquinhos públicos podem não ser acessíveis para crianças cadeirantes ou com mobilidade reduzida e sobre isso Esther completa “Quando a gente pensa em brinquedos acessíveis, a princípio eles servem para um grupo de crianças com deficiência que são aqueles têm uma deficiência física ou mobilidade reduzida. Alguma coisa que precisa de uma adaptação naquele brinquedo para que a criança possa entrar com uma cadeira de rodas, ou para que ele tenha algum tipo de segurança porque essa criança às vezes não tem firmeza no tronco, então ela precisa de um apoio. Eles são realmente para as crianças que têm uma questão mais física que impede de brincar numa balança comum ou num gira-gira comum, essa é a questão. Quando pensamos nas coisas adaptadas eu vou adaptar justamente para uma criança que ela tenha algum, por exemplo, ela tem um encurtamento de braço, ela tem alguma coisa que é física e eu preciso adaptar, mas eu vou te falar, que isso é bem pouco. Eu fico pensando mais que a acessibilidade precisa ser dada em parques onde qualquer criança com qualquer questão física possa participar. Quando a gente pensa no desenho universal a gente sempre pensa em espaços que foram planejados para todas as pessoas participarem, com ou sem deficiência. Então se eu for organizar um espaço público pensando no desenho universal eu vou acabar criando espaço onde a cadeira de rodas possa entrar, se eu quero uma balança eu coloco ali uma balança diferenciada para isso, mas que seja um lugar onde no seu todo eu possa perceber que eu posso ir lá com uma criança cega, com uma criança cadeirante com um criança com transtorno do espectro autista o importante é essa acessibilidade pensada no universal, no desenho universal. Eu digo que mais do que brinquedos acessíveis, eu preciso ter um adulto que queira brincar com esta criança. É mais na ação, é mais no querer, no estar junto”.
A importância dos parquinhos acessíveis a todas as crianças é inegável, mas quando falamos da cidade de São Paulo os números são desanimadores, de acordo com o g1 – O portal de notícias da Globo, apenas 13 dos 92 parquinhos municipais de São Paulo são inclusivos. No entanto, alguns desses parques que são considerados acessíveis não possuem: rampas de acesso, piso tátil, mapas e comunicação em braile.
A Divisão de Gestão de Parques Urbanos (DGPU) é responsável pela gestão dos 108 parques municipais urbanos da cidade. A exemplo de muitos outros problemas que acometem metrópoles como São Paulo a falta de investimentos não só em parquinhos acessíveis, mas também que todo entorno do local seja acessível e sobre isso Esther nos explica “Eu não vejo grandes desafios. E vejo uma questão de vontade política. Realmente vontade de fazer acessibilidade para todos os equipamentos públicos, porque comprar brinquedos adaptados, eles não são tão caros e aí eu fazendo parques acessíveis para a cidade eu estaria promovendo o brincar, promovendo a inclusão de todo mundo, então entrave econômico eu não acredito. São entraves mesmo de vontade política, de pessoas que estejam realmente engajadas com a luta da pessoa com deficiência e de querer que todas as pessoas acessem todos os espaços públicos”, diz a especialista.
Celebrar o Dia das Crianças é celebrar a vida e o futuro. Ao garantir que nossos parques sejam espaços acessíveis e inclusivos, estamos investindo no futuro da nossa cidade. Que este seja um momento para refletir sobre a importância de proporcionar a todas as crianças a oportunidade de brincar e se desenvolver em um ambiente seguro e estimulante. É hora de agir e fazer de São Paulo uma cidade ainda mais inclusiva para todos.
Alguns parque com áreas acessíveis em São Paulo:
Parque Ibirapuera: Um dos maiores parques da cidade, o Ibirapuera possui áreas de lazer adaptadas, como o Parque da Criança, com brinquedos inclusivos
Parque Ibirapuera playground São Paulo
Parque Villa-Lobos: Além de trilhas ecológicas, o Villa-Lobos conta com um playground acessível, com rampas e piso tátil.
Parque Trianon: Localizado no centro da cidade, o Trianon oferece um espaço verde tranquilo e acessível, com bancos e rampas.
Parque Trianon São Paulo
Parque da Mônica: Inspirado nos personagens da Turma da Mônica, este parque localizado na Zona Sul possui brinquedos adaptados para crianças com diferentes necessidades.
Parque da Mônica São Paulo
Parque do Carmo: Na Zona Leste, o Parque do Carmo oferece um playground acessível com diversos brinquedos e equipamentos adaptados.
Parque do Carmo playground São Paulo