Todos têm direito a uma educação que os acolha por inteiro – artigo de Sergio Gomes

Estudantes e professores (com e sem deficiência) enfrentam superlotação e falta de estrutura inclusiva em escolas públicas “Eu gosto de ir para a escola e gosto de fazer atividades.” – Gabriel Dantas Gomes, 13 anos, jovem com autismo e aluno da escola estadual Reverendo Almir Pereira Bahia, na grande São Paulo. Gabriel faz o relato sobre sua rotina na escola de forma empolgada! E sua mãe, Cristina Dantas de Araujo, complementa: “Ele fica bem na escola, e faz as atividades da maneira que consegue.” O mesmo sentimento de pertencimento aparece no relado de Giulia dos Santos, 13 anos, jovem com autismo e aluna da mesma escola que Gabriel. Ela tem uma boa interação com meus colegas de sala no dia a dia. “O material adaptado que a escola faz uso é bem interessante e claro”, complementa Giulia. Sua mãe, Mônica da Silva dos Santos também relata sobre a rotina da filha: “A rotina escolar da minha filha é boa, ela está inserida no grupo escolar de maneira satisfatória”. A partir da década de 1990, o Brasil testemunhou um movimento mais intenso e significativo na construção de uma escola que acolhesse a todos e todas. No entanto, a busca por padrões de normalidade ainda impera em nossa sociedade, criando algumas barreiras ao pertencimento integral de alunos com e sem deficiência nas escolas. A Educação Inclusiva defende o acesso, a participação, o pertencimento e o aprendizado de todos os alunos, independentemente de suas características ou necessidades diversas, exatamente como salienta Paulo Rogério Spinelli, professor e coordenador pedagógico, formado em Letras e Pedagogia, com 22 anos na docência: “As salas são heterogêneas, portanto, a diversidade e o pluralismo se fazem presentes e necessários! A convivência com os estudantes com deficiência nos propicia momentos ímpares de aprendizado para ser exercido dentro e fora da escola. A necessidade de adaptar os conteúdos está ligada aos estudantes com deficiência da mesma forma que aos estudantes com questões alheias à perspectiva inclusiva. Devemos mudar as “lentes” para enxergar com os olhos do outro e a partir disso, a nossa prática de ensino”. Em 2023, o estado de São Paulo contabilizava mais de 10 milhões de estudantes matriculados em suas redes públicas e privada de ensino. Entre essa parcela, somente 2,8%, ou seja, cerca de 280 mil alunos, apresentavam algum tipo de deficiência. Destes, somente 63,5%, como o jovem Gabriele a jovem Giulia estavam inseridos no Ensino Fundamental, etapa crucial para o desenvolvimento educacional e social. No Brasil, essa luta encontra amparo em uma legislação robusta, que garante os direitos dos estudantes com ou sem deficiência. Porém, ainda existem muitos desafios, como ressalta o professor Paulo: “Falta de políticas públicas mais efetivas, embora haja muitos recursos, mas ainda se evidencia a necessidade de um melhor direcionamento na aplicabilidade de uma infra-estrutura física e pedagógica que seja inclusiva e equânime. Eu trabalho na rede municipal de Barueri e lá temos a figura do professor de inclusão escolar. Este profissional se dedica ao atendimento individualizado dos estudantes com deficiência e em suas potencialidades. Ele auxilia o professor na adequação e adaptação do seu planejamento e atua na execução do mesmo junto ao estudante”. Outro fator que desafia tanto professores como os alunos e os funcionários é a superlotação das salas de aula. O Conselho Nacional de Educação (CNE) recomenda, no máximo, 30 alunos por turma, mas nas escolas públicas esse número pode superar os 40 alunos. Sobre a superlotação das salas, o professor de filosofia da escola estadual Reverendo Almir Pereira Bahia, Antônio Roberto Oliveira Santos comenta: “O maior desafio é a superlotação das salas de aula. Sabemos que é muito importante trabalhar com a inclusão dos alunos, mas com as salas cheias, temos dificuldades de atender de forma adequada cada aluno, principalmente, as crianças com deficiência. Porém, são muitos os aspectos positivos na convivência com alunos com deficiência, pois aprendemos a ser mais solidário e tolerante com as dificuldades do outro, e aprendemos a se comportar como seres humanos diante de algumas dificuldades apresentadas no dia a dia”. Para Antônio, o problema de uma educação inclusiva de qualidade precisa ser mais discutido na sociedade e o poder público precisa investir mais na preparação dos profissionais da educação, pois só assim será viável obter resultados melhores. Para saber mais sobre Educação Inclusiva: Professora ajuda aluno com autismo a estudar: https://globoplay.globo.com/v/12620842/ Sergio Gomes é jornalista, escreve regularmente para o site da Câmara Paulista para Inclusão das Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho Formal. É também uma pessoa com esquizofrenia.

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