Um passeio nada a ver, por Tuca Munhoz

Comprei, há cerca de dois meses, três ingressos para visitação ao mirante Sampa Sky, no centro de São Paulo, Viaduto Santa Ifigênia. Chegado o dia da visitação, fui acompanhado de minhas duas filhas.

Os ingressos foram comprados com antecedência dado à grande procura e afluência de público ao local, o que demostra o sucesso comercial do empreendimento.

Ao chegar ao local, com 20 minutos de antecedência, fui informado de que eu teria de trocar de cadeira, deixando a minha, que é uma cadeira motorizada e passaria a utilizar uma cadeira do próprio serviço, teria que ser carregado por um lance de escadas, o que recusei energicamente, argumentando que tal solução não constitui acessibilidade conforme a legislação vigente.

Para quem não sabe, minha cadeira de rodas é customizada para as minhas necessidades e posicionamento físico, dotada de assento e encosto anatômicos, pneumáticos e que permitem, meu conforto, segurança e postura adequados.

Por prolongados minutos fui atendido pelo bombeiro civil, Sr. Marcio, que se portando de maneira muito cordata e educada, insistiu que eu deveria me adequar às normas do empreendimento e que outras pessoas em cadeiras de rodas já haviam sido transportadas da maneira que ele propunha, ou seja, sendo carregadas.

Em alguns casos, pessoas em cadeiras de rodas manuais foram transportadas por um dispositivo da casa, um tipo de “lagarta”, em que a cadeira de rodas manual, mas não todos os modelos, é encaixada e levada escadas acima e abaixo.

Esse equipamento não se presta para a utilização em cadeiras de rodas motorizadas e scooters e mesmo em alguns modelos de cadeiras manuais. Tenho uma amiga, Lia Crespo, que apelidou, esse dispositivo, muito acertadamente, de “traquitana”.

Não satisfeito em ser atendido pelo Sr. Márcio, o bombeiro civil, solicitei a presença do gerente do empreendimento, que desceu, depois de uns bons minutos de espera, e argumentou, e eu me considerei agredido com essa fala, de que eu não estaria colaborando, e que  naquela altura eu já poderia estar no mirante, se não fosse “tão teimoso”.

Não aceitando tais palavras solicitei a presença do proprietário do empreendimento, este não se encontrando, fui atendido pelo advogado da empresa Sr. Antonio Caldeira.

Durante todo o tempo, eu e minhas filhas ficamos na recepção do empreendimento no andar térreo do edifício Mirante do Vale, situação em que vários dos frequentadores, aguardando para subir ao mirante, demonstraram solidariedade com nossa situação, desconfortável e constrangedora.

Perguntei ao Sr. Caldeira se, em relação à acessibilidade, havia o parecer técnico de um profissional especializado, um arquiteto, no caso. Ele não soube informar, e não possuía nenhum documento relativo à acessibilidade do empreendimento.

Solicitei o alvará de funcionamento do empreendimento, que me foi fornecido. Também o advogado, argumentou, insistentemente, e por longo tempo, de que a solução disponível sim, constituía acessibilidade, o que, em nenhum momento concordei.

Infelizmente, soube que a Instituição de reabilitação Rede Lucy Montoro, realizou visita ao local com a participação de várias pessoas com deficiência usuárias de cadeiras de rodas.

Deixo aqui registrado minha tristeza e indignação pelo fato de que uma instituição desse porte e importância tenha aceitado essa situação constrangedora para seus usuários.

O equipamento disponível para o transporte de cadeirantes, disponibilizado pelo serviço é semelhante a este:

Pequena alavanca de metal com roldanas.de aparência frágil.

Em propaganda nas redes sociais Facebook e Instagram, imagens abaixo, a empresa anuncia que “o mirante é para todos” e que há acessibilidade, inclusive com a foto de uma cadeirante, modelo contratada por uma empresa de publicidade.

Também em reportagem veiculada no programa jornalístico SPTV foi anunciado a disposição de recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência.

E até a data em que escrevo este texto, 27 de março de 2022, ainda consta na rede social da empresa a propaganda da existência de acessibilidade. O acontecido comigo deu-se no dia 08 de março.

Acredito, que além dos problemas aqui colocados, temos também propaganda enganosa.

O empreendimento sampa Sky está localizado na Praça Pedro Lessa, 100 Cobertura, Centro Histórico de São Paulo

Edifício Mirante do Vale

Eu e várias outras pessoas, cadeirantes, estamos planejando um “ocupa” no andar térreo do empreendimento, em protesto contra essa falta de respeito, não somente a mim, é claro, mas a todas as pessoas com deficiência que não têm acessibilidade ao local, e que são enganadas pela propaganda enganosa, e desrespeitadas pelo não cumprimento da legislação.

Venha protestar com a gente.

Me contate pelo e-mail abaixo.

Uma jovem mulher sorrindo, sentada em uma cadeira de rodas que está sendo içada e suspensa no ar. Ela está em um ambiente de paredes e teto envidraçados, pelos quais se vê o céu azul com nuvens brancas

Fonte: https://www.facebook.com/search/top?q=sampa%20sky

Tuca Munhoz

[email protected]

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